Artista que é autor Monumento do Centenário, viu na arte a beleza da vida
Fotos Marcelo Zemke
Marcelo Zemke
Aos 86 anos, Roland Rikli é a personificação de como a arte pode transformar a vida. Antigo comerciante próspero da região de Ibirama, ele jamais imaginaria que sua trajetória seria drasticamente alterada por um acidente automobilístico. Prestes a completar 40 anos, Roland viu-se paraplégico, em uma reviravolta que o obrigou a reaprender a viver e a redefinir suas prioridades.
O dinheiro, que antes guiava suas escolhas, perdeu seu valor central. Em busca de uma vida mais simples e introspectiva, Roland trocou o conforto na cidade pelo aconchego de um chalé de madeira às margens do Rio Hercílio, no interior de Ibirama, onde vive há 27 anos. Durante as sessões de terapia ocupacional após o acidente ele descobriu na arte uma vocação que tem o guiado ao longo da vida. “Por uma série de circunstâncias, perdi minha família, meus bens e minha saúde. Através da arte, consegui muita coisa”, enfatiza seu Roland, que recebeu a equipe de reportagem em sua casa, onde vive com tranquilidade, ao som das corredeiras, às margens do Rio Hercílio.
Ele conta que a mudança veio quando decidiu explorar a madeira, um material que o conectava mais diretamente à natureza ao seu redor. Começou com pequenos entalhes e rapidamente descobriu um talento natural para a escultura. Autodidata, sem nunca ter frequentado um ateliê ou recebido aulas formais, Roland passou a criar figuras humanas — primeiro cabeças, depois corpos inteiros. Algumas destas peças decoram a casa. “Já trabalhei um pouco com pedra, mas minha matéria prima principal é a madeira. Depois que eu saí do hospital, como já mencionei, peguei um pedacinho de madeira e meu primeiro trabalho foi um cavalo alado. Achei que ficou mais ou menos interessante. A partir dali continuei”.
Roland conta ainda que confraterniza com amigos mais próximos todas as semanas em sua casa, que tem se mantidos fieis ao longo dos anos. “A ideia da choperia no taquaras nasceu em um destes encontros nesta casa. Inclusive, a escultura do Fritz que está no local, foi feita por mim”, revela.
Entre suas obras está o Monumento do Centenário, localizado na entrada da cidade, foi idealizado e esculpido pelo artista, reconhecido por seu talento autodidata e sua profunda conexão com a história da região.
Monumento do Centenário
O artista diz que perdeu a conta de quantas esculturas já produziu em sua oficina, localizada nos fundos da casa, mas talvez, uma de suas obras mais conhecidas seja o Monumento do Centenário, inaugurado em 1997, ano em que Ibirama comemorou seu centenário de colonização, e a cidade prestou uma homenagem especial àqueles que contribuíram para sua construção e crescimento. “O projeto foi meu. Me pediram um monumento comemorativo aos 100 anos e durante a noite fiquei pensado e no dia seguinte, tive a ideia e fiz uma maquete”, relembra.
A obra monumental retrata quatro figuras simbólicas, cada uma representando um pilar fundamental na formação e no desenvolvimento de Ibirama, sendo o índio, o imigrante desbravador, o agricultor e o operário. Ronland esculpiu os moldes de madeira e as peças foram feitas em bronze. “Quem vê a obra, talvez não tenha esta noção, mas ela representa o envolvimento da comunidade no crescimento de Ibirama, a partir dos índios, depois do desbravador, seguindo ao agricultor e depois para a indústria”, conta.
O índio representa os habitantes nativos da terra, que já viviam aqui antes da chegada dos colonizadores. Os povos indígenas foram os primeiros a habitar a região, e sua presença marca a história de Ibirama como parte do território original. O imigrante desbravador simboliza aqueles que chegaram à região para abrir caminhos, construir e estabelecer as bases da colônia. Seu espírito pioneiro impulsionou o desenvolvimento inicial de Ibirama, desbravando florestas e construindo os primeiros assentamentos. O agricultor foi uma peça chave no sustento da colônia Hamônia, onde os colonos asseguraram a prosperidade da região, transformando as terras férteis em fonte de sustento e desenvolvimento. Já o operário representa a força de trabalho que impulsionou o crescimento industrial e econômico da cidade. “Levou em torno de seis meses para deixar pronta e seis meses de trabalho foi demorado”, disse.
Peças de xadrez
O escultor confessa que tem como passatempo preferido, as partidas de xadrez, que joga pela internet. “Eu jogo diariamente pela internet e não é contra computador, é contra pessoas. Jogo diariamente quatro, cinco partidas”, confessa.
A paixão pelo jogo o levou a esculpir as peças, que conforme ele, o Cavalo é a mais detalhada para fazer. “Esculturas eu tenho feito bem pouco e faz um bom tempo que eu não faço. Tenho feito de peças de xadrez”.
Hoje, Roland Rikli, com sua arte robusta e visceral, é reconhecido por sua capacidade de transformar dor em beleza. Seu trabalho vai além da estética: ele revela uma história de resiliência, superação e redescoberta de sentido. Para Roland, a arte tornou-se mais do que uma ocupação — tornou-se a essência de sua nova vida. “A vida é bela, a natureza é exuberante. Viva a vida!”, finalizou, batendo com o punho na mesa de madeira.