No Alto Vale, a rotina corrida da produção de leite faz parte da realidade de diversas famílias. Ao longo dos anos o preço pago aos produtores sofreram crescimentos e algumas quedas, mas em 2020, sobretudo no mês de setembro, o valor recebido pelo produtor catarinense atingiu R$1,87 por litro, o que corresponde ao aumento de 35% em relação a setembro de 2019.
O engenheiro agrônomo e analista socioeconômico da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes diz que embora a média seja a maior da história, alguns produtores receberam um valor inferior. Ele ressalta que a rentabilidade depende também do sistema de produção. “Esse aumento de preços vem desde o mês de junho, e agora em outubro houve um acréscimo sensível do valor recebido pelos produtores, obviamente que isso não repercute linearmente para todos os produtores, porque depende muito dos custos de produção de cada um. O preço médio foi de R$1,87 por litro, mas nessa média tem produtor que recebeu R$2,00 ou mais, teve também aqueles que receberam menos que a média”, esclarece.
Para o engenheiro, o sistema de produção é um dos fatores que mais afetam o valor final, já que a soja e o milho também sofreram aumento. “Como está havendo um aumento nos preços da soja e do milho que são importantes no custo da ração, a rentabilidade está ligada a esse sistema, de maneira geral, relativizando isso, dá para dizer que os produtores têm sido beneficiados nos últimos meses, com preços bem melhores que no ano passado”, explica.
No ano passado, em setembro, o valor médio recebido pelo produtor de leite catarinense foi de R$1,39, isso representa um aumento de 35%. Já em outubro de 2019 foi de R$1,38. “Como nós não temos o preço médio desse mês ainda, mas provavelmente vai ser superior ao de setembro, a correção ainda deve ser maior do que 35% na maioria das regiões do estado”, revela.
Tabajara conta ainda que o valor de setembro superou a expectativa, mas não se mostra otimista em relação aos próximos meses. Ele diz que, observando o cenário, é possível que haja uma queda em novembro. “Não acho que isso vá perdurar em novembro, porque é uma combinação de dois aspectos: primeiro porque nós estamos em um momento de crescimento da oferta brasileira de leite, que se dá a partir de setembro principalmente. Mais importante do que isso em termos de perspectiva, é o fato de que muito do que aconteceu, de preços recebidos pelos produtores nesses últimos meses está relacionado com o auxílio emergencial. Para muitas famílias, o valor faz uma diferença significativa e como a partir de setembro começou a haver redução no auxílio, e principalmente porque para 2021 não sabemos se o programa se estenderá, a tendência é esse quadro de consumo não se manter”, enfatiza.
Áurea Ern Hoffmann e Loribert Hoffmann trabalham com a produção de leite há vários anos, em Ituporanga na comunidade de Alto Rio Novo. Para eles, o valor recebido não atingiu a média estadual. Áurea, que é aposentada diz que está difícil manter a produção em razão dos preços baixos. “Os produtores estão sofrendo com o preço baixo no litro de leite. Durante todo o ano nós estávamos ganhando R$1,15 por litro e agora duas vezes recebemos R$ 1,50 e outra R$1,70 na propriedade. Com esse preço de 1,70 dá para ir levando, o leite poderia permanecer ou subir mais para que quem produz leite poder continuar”, opina.
Ela conta ainda que os custos de produção são altos e que para manter as 12 vacas produzindo cerca de 350 litros a cada dois dias, não está fácil. “Nós até já desistimos de comprar ração porque não compensa tratar ração no preço que está. Se o leite baixar não dá para continuar”, afirma.
Além das aposentadorias, a única fonte de renda da propriedade é a venda do leite. “Eu digo uma coisa: é muito apertado, muito difícil viver do dinheiro do leite. Nós estamos trabalhando com a produção ainda, porque irrigamos a pastagem com esterco de porco de uma granja aqui perto, mas tenho dó daqueles que não tem e precisam comprar outros produtos”, finaliza.
Reportagem: Rafaela Correa/DAV