No Alto Vale foram 21 mortos (dois em Rio do Sul e um em Ibirama)
Marcelo Zemke
O dia 17 de dezembro é marcado pelos três anos de uma das maiores tragédias do Alto Vale. Atualmente, o Ribeirão Revólver em Presidente Getúlio, traz poucas lembranças da enxurrada que causou a morte de 18 pessoas, destruiu casas e trouxe muitos prejuízos para as famílias. Para a maioria das famílias, os danos foram recuperados, mas ainda persiste a cicatriz emocional, o medo e saudade dos entes queridos que partiram. Aquela quinta-feira, dia 17 de dezembro de 2020, continua na memória de muitos getulienses.
A tempestade, atingiu também os municípios de Ibirama e Rio do Sul, e deixou um rastro de mortes maior, por exemplo, que o furacão Catarina que atingiu o Estado em 2004 e causou 11 óbitos. No Alto Vale foram 21 mortos (doisem Rio do Sul e um em Ibirama). Foram 125 milímetros em cinco horas e deslizamentos trouxeram árvores nativas e pedras gigantes deram lugar às casas.
No bairro Revólver, há poucos vestígios para lembrar o drama enfrentado pela comunidade local e se algum desavisado passar pelo local, nem irá perceber que ali houve uma tragédia de tamanha proporção, dada recuperação das casas e do ribeirão. Hoje, um memorial na rua Dr. Getúlio Vargas traz o nome das vítimas das vítimas, um bosque, um parque a uma quadra de areia.
Com ele, há a lembrança do que era para ser uma noite de chuvosa de verão, se transformou em uma avalanche de terror. O saldo foi de cerca de 137 desabrigados (que perderam a casa) e ao menos 3.300 moradores foram prejudicados pelo fenômeno.
Data também foi lembrada nas redes sociais da Prefeitura de Presidente Getúlio. “A reconstrução já é uma realidade, através da força e resiliência de todos, mas é fundamental lembrar daqueles que não estão mais conosco. Hoje, olhamos para trás não apenas para recordar a devastação, mas para honrar as vidas que se foram. Suas memórias permanecem vivas em nossos corações, motivando-nos a construir um futuro mais seguro e a valorizar a fragilidade da vida”.
Da casa, restou só o cercado
Um dos moradores que enfrentou risco de morte, foi Ingo Wiese, que depois ter a casa inteira levada pela enxurrada, passou a morar por cerca de um ano e dois meses, na casa do genro, até construir uma nova residência, que fica localizada há poucos metros de onde ficava a antiga casa. A família Wiese foi uma das mais impactadas, com morte de nove pessoas.
A nova casa foi edificada no terreno mais alto, que na ocasião enxurrada serviu de abrigo, e dali o casal pôde ver a antiga casa ser levada, gerando uma imagem icônica do fenômeno retratada em diversos portais de notícias de SC, em que em um terreno baldio, restava a penas o cercado da residência.
Após três anos, ele e a esposa Lorencida Wiese seguem a vida normal. A casa em que viveu com esposa na rua Getúlio Vargas, sempre foi motivo de orgulho por estar sempre bem cuidada, com um jardim florido e um horta onde colhia produtos frescos para as refeições do dia-a-dia. A esposa, Lorencida Wiese conta que ainda pensa naquela noite. “Não sei como saímos da casa, com água pela cintura e sem roupas secas para vestir”, lembra Cida.
Já Wiese conta após a enxurrada, o local foi visitado por inúmeras pessoas, entre elas lideranças políticas e repórtes de diversas mídias. “ Penso nisso toda hora. Perdi primos, tios e tias. Escapamos por um minuto”, disse.
Ele vive local há 45 anos e conta nunca ter visto nada igual. Ele contou que em poucos minutos, toda a casa havia sido de levada pela enxurrada, restando apenas a estrutura do pavimento da garagem e o cercado. Wiese conta que saiu de casa por causa do alagamento do ribeirão e havia acendido uma vela pois estava sem luz. A única coisa que tirou casa, foi um isqueiro, que estava em seu bolso. “Saímos de casa com água na garagem e voltei para apagar uma vela que havia ficado em cima da mesa, para evitar que ela pegasse fogo, nunca havia imaginado que a casa pudesse ser levada. Ficaram dois carros na garagem, um deles com apenas 1.600 quilômetros rodados, que depois o encontramos bem longe daqui sem o motor e todo retorcido. Só reconheci por causa dos documentos que estavam no porta-luvas”, contou.
Ele conta que no período de dois anos, teve que lutar que lutar para conseguir tudo novamente. “Na época tínhamos vacas e como estava sem luz, as cercas estavam desligadas. Vinha para cá para cuidar de tudo, pois estavam roubando fiação e até lâmpadas de outras casas. Ainda tem gente, que quando levanta uma trovoada fica com medo. Hoje estou tranquilo”. Ele foi ouvido pela reportagem em dezembro de 2022.