No dia 11 de março de 1934 aconteceu a instalação do Município de Dalbérgia

Foto Marcelo Zemke
Nesta terça-feira, 11 de março, Ibirama comemora 91 anos de emancipação político-administrativa. A data, que marca a independência do município, é feriado municipal e convida a população a refletir sobre a trajetória histórica da cidade. “Afinal, exaltemos a história que registrou nossa caminhada através dos tempos, da fundação até os dias atuais”, destaca o escritor Harry Wiese.
Conforme o escritor, que já publicou no Jornal Vale do Norte sobre o tema, nem sempre o feriado municipal foi celebrado nesta data. Em tempos passados, o Dia do Município era comemorado em 8 de novembro, data da fundação de Ibirama.
A mudança ocorreu, principalmente, devido ao excesso de feriados no mês de novembro, o que impactava o comércio local. No entanto, mais importante do que a data, é o reconhecimento da história. “Não me permito perceber incômodo na mudança, desde que a data não seja somente mais um feriado. Desejo intensamente que haja uma reflexão sobre a história de Ibirama, do início de sua existência até os dias atuais. De Sellin e Odebrecht, os fundadores, até todos os habitantes desta terra, sem exceção, pois todos são ou foram sujeitos ativos da história. Os sujeitos se configuram na inter-relação complexa, duradoura e contraditória das identidades sociais e pessoais, ou seja, a História não é apenas construída por heróis e vilões, mas é consequência de construções de todos os agentes sociais de uma comunidade, estado ou país.”, pontua Wiese.
A fundação de Ibirama remonta a 8 de novembro de 1897, quando Alfred Wilhelm Sellin e Emil Odebrecht deram início à nova colônia, batizada de Hammonia. O marco simbólico foi a derrubada da primeira árvore no local onde hoje está o Paço Municipal, na Rua 11 de Março.
A emancipação política ocorreu em 11 de março de 1934, por meio do Decreto nº 498, oficializando a criação do município, então chamado de Dalbérgia. O processo, no entanto, não foi pacífico. A separação de Hammonia e a criação de novos municípios como Gaspar, Indaial e Timbó geraram revolta em Blumenau, que viu seu território reduzido. O movimento “Por Blumenau Unida” mobilizou protestos e até ameaças de ações armadas. O prefeito Jacob Schmidt desapareceu temporariamente e o chefe da polícia foi alvo de ameaças de sequestro. “Felizmente, prevaleceu o bom senso e aos poucos a situação voltou à normalidade”, registra o escritor.
Aspectos históricos

Foto emancipação
O Distrito de Hamonia há muito desejava sua emancipação político-administrativa, depois de 37 anos sob os domínios de Blumenau. Os agentes políticos e o povo em geral ansiavam por vida própria e almejavam o progresso com maior autenticidade, pois o município de Blumenau era muito extenso e de difícil controle administrativo.
Em 1934 aconteceu a emancipação da colônia, que ganhou o nome de Dalbérgia e em seguida Ibirama, que recebeu esta nomeação seguindo a linguagem indígena, que quer dizer “terra da fartura”.
De acordo com informações oficiais do histórico e formação administrativa, a emancipação de Ibirama de Blumenau não se constituiu num processo pacífico. Apesar dos motivos políticos na época que deram sustentação ao desmembramento, com certeza perder um Distrito lucrativo como Hamonia, com boa arrecadação, era de difícil entendimento por parte da população blumenauense.

Houve então, um grande movimento denominado “Por Blumenau Unida” e o povo saiu às ruas em protesto, com preparativos para uma ação armada.
Controlaram-se os estoques de combustíveis e mantimentos. Durante vários dias o comércio esteve de portas fechadas, mas, felizmente prevaleceu o bom senso e aos poucos a situação voltou à normalidade.
Por conta disso, foram tomadas as providências legais e, no dia 17 de fevereiro de 1934, pelo decreto nº 478, foi criado o município com o nome de Dalbérgia, desmembrado de Blumenau. De acordo com o Decreto, o novo município deveria ser instalado entre Nova Breslau (hoje Presidente Getúlio) e Nova Bremen (hoje Dalbérgia), aproximadamente onde está instalada a Cerâmica Bosse.
Lançamento da pedra fundamental foi no Distrito de Dalbérgia
Conforme a história da fundação de Ibirama, disponível no Arquivo Público Municipal de Ibirama, a sede administrativa do município deveria ter sido instalada onde hoje é o Distrito de Dalbérgia, conforme previa a Sociedade Colonizadora Hanseática.
No dia 11 de março de 1934 aconteceu a instalação do Município de Dalbérgia na localidade de Hamônia, tornando-se o 38º município de Santa Catarina. Houve o lançamento da pedra fundamental para construção da prefeitura.
Já o atual Centro de Ibirama se desenvolveu ao redor da Sociedade Colonizadora Hanseática, que ficava onde hoje está o Paço Municipal, por questões de proximidade administrativa. Antes de 1934, no local era desempenhado o papel da prefeitura, com os serviços burocráticos.
O município permaneceu com o nome de Dalbérgia até 07 de maio de 1935, quando o governador Nereu Ramos determinou a volta do nome Hamonia para o município, criando também por este decreto o Distrito de Dalbérgia.
Alegando se tratar de um nome estrangeiro e por conta das políticas de nacionalização do governo Getúlio Vargas, em 1943, pelo Decreto-Lei Estadual nº 941, o município de Hamonia, passou a se denominar Ibirama.
Crescimento e desmembramentos

Com o passar das décadas, Ibirama continuou a crescer, mas também passou por desmembramentos que deram origem a novos municípios. Em 1954, Presidente Getúlio tornou-se independente. Posteriormente, em 1988, foi a vez de José Boiteux, seguido por Vítor Meireles, que se emancipou em 1989.
No centenário de fundação, em 1997, a cidade celebrou sua trajetória com grandes festejos e a inauguração do Monumento do Centenário. A obra, de autoria do artista Roland Rikli, homenageia os pioneiros da colonização, com figuras esculpidas representando o índio, o imigrante desbravador, o agricultor e o operário. “O projeto foi meu. Me pediram um monumento comemorativo aos 100 anos e durante a noite fiquei pensado e no dia seguinte, tive a ideia e fiz uma maquete”, relembra.
A obra monumental retrata quatro figuras simbólicas, cada uma representando um pilar fundamental na formação e no desenvolvimento de Ibirama, sendo o índio, o imigrante desbravador, o agricultor e o operário. Ronland esculpiu os moldes de madeira e as peças foram feitas em bronze. “Quem vê a obra, talvez não tenha esta noção, mas ela representa o envolvimento da comunidade no crescimento de Ibirama, a partir dos índios, depois do desbravador, seguindo ao agricultor e depois para a indústria”, conta.
O índio representa os habitantes nativos da terra, que já viviam aqui antes da chegada dos colonizadores. Os povos indígenas foram os primeiros a habitar a região, e sua presença marca a história de Ibirama como parte do território original. O imigrante desbravador simboliza aqueles que chegaram à região para abrir caminhos, construir e estabelecer as bases da colônia. Seu espírito pioneiro impulsionou o desenvolvimento inicial de Ibirama, desbravando florestas e construindo os primeiros assentamentos. O agricultor foi uma peça chave no sustento da colônia Hamônia, onde os colonos asseguraram a prosperidade da região, transformando as terras férteis em fonte de sustento e desenvolvimento. Já o operário representa a força de trabalho que impulsionou o crescimento industrial e econômico da cidade. “Levou em torno de seis meses para deixar pronta e seis meses de trabalho foi demorado”, disse.
A placa comemorativa reafirma o reconhecimento às gerações que contribuíram para o desenvolvimento do município.
Um legado a ser valorizado
Ibirama construiu sua história entre desafios e conquistas, mantendo o espírito de crescimento e progresso. “Os sujeitos se configuram na inter-relação complexa, duradoura e contraditória das identidades sociais e pessoais, ou seja, a História não é apenas construída por heróis e vilões, mas é consequência de construções de todos os agentes sociais de uma comunidade”.