A antiga sala de cirurgias que salvou vidas, também foi palco de emoções que somente o cinema é capaz de produzir
Marcelo Zemke
No dia 20, um dos principais cartões postais e marco arquitetônico de Ibirama, o Hansahoehe completou 87 anos de inauguração. O Hansahoehe desde de seus primórdios sempre chamou a atenção, e chegou a ser considerado na época por um jornal de Blumenau como ‘hospital mais alto de Santa Catarina’, onde ‘todos os andares poderiam ser acessados de automóvel’. Hoje o local abriga o museu histórico, biblioteca e salas de teatro.
Mas além de muitas histórias e lendas, o hospital, no seu passado mais recente chegou a abrigar uma sala de cinema que funcionou na antiga sala de cirurgias: o Cine Larry Boehn. A idealizadora foi a então presidente da Associação Hansahoehe, Maria da Graça de Souza Feijó.
Antes da popularização do vídeo cassete, o cinema funcionou no local de 1992 a 1998, atraindo público variado, que lotava a plateia para ver os grandes lançamentos que estavam em cartaz nas grandes cidades. O cinema foi mantido com muita dedicação por aqueles que buscavam angariar recursos para manter o edifício. Além da venda de ingressos, o grupo explorou até uma bomboniere, com vendas de pipocas e refrigerantes.
A partir da devolução do Hospital Miguel Couto, em 20 de setembro de 1986, a nova Associação iniciou um trabalho para a conservação e a restauração interna e externa do prédio. O prédio, inaugurado em 1936, havia sido confiscado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, em fevereiro de 1942.
A fonte desta reportagem, a diretora do Arquivo Público de Ibirama, Sandra Maria Secchi, conta que o cinema tinha esta proposta de angariar recursos para conservação do prédio.
Ela conta que os dois projetores e cadeiras vieram do cinema de Ingo Böhm. Já a sala, com elevação das cadeiras da plateia foi feita pela associação. O rolo de filmes vinha de ônibus de Curitiba, depois de projetado, ele voltava para a capital do Paraná. “Teve um grupo de pessoas interessadas que mantinham o cinema. Um deles escolhia o filme, um outro grupo ficava responsável pela venda dos ingressos e um terceiro era responsável pela venda das pipocas”.
Durante as projeções, ocorria um intervalo para troca dos rolos de filmes, e nesse meio tempo, a bomboniere do cinema aproveitava para realizar as vendas. “Se mantinha a tradição de acender as luzes e o público comprar pipocas, para angariar recursos para manter o prédio”, conta.
As máquinas de projeção ainda estão no Hansahoehe. Hoje, graças a recursos da lei Rouanet, a sala de projeções está equipada com Datashow, computador e ar condicionado.
A glória do Cine Larry Boehn foi encerrada com chave de ouro. O último filme projetado no cinema também foi um dos mais importantes da história da sétima arte mundial: Titanic, do diretor James Cameron. O filme ficou várias semanas em cartaz e atraiu o público de vários municípios da região.
Hansahoehe completa 87 anos
Conforme o presidente da Associação Hansahoehe, Diceu Leite, o Hansahoehe está em processo de tombamento na Fundação Catarinense de Cultura e recentemente houve reestruturação de parcela de seu sistema elétrico. “O processo de tombamento, uma vez efetivado, permitirá a busca de recursos de incentivo fiscal para a manutenção do prédio”, informou.
Idealizado pelo médico alemão Friedrich Kröner, que foi também o primeiro diretor, e com a pedra fundamental lançada em 12 de maio de 1935, o edifício foi construído em tempo recorde e entregue em 1936. Já os primeiros pacientes vieram em outubro do mesmo ano.
Em 8 de junho de 1941, Nereu Ramos visitou as dependências do Hospital Hansahoehe. E em 27 de fevereiro de 1942, o Governo do Estado decretou a intervenção no hospital e em junho de mesmo ano, o prédio foi confiscado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, através do Decreto no 2459. Ele só seria devolvido para a comunidade em 1986.
Atualmente, o Hansa abriga o Museu Histórico Eduardo Lima e Silva Hoerhan, teatro, cinema com projetores à carvão (atualmente desativado) e clínicas médicas.
Hoje, o Hansahoehe sobrevive graças à dedicação de pessoas interessadas em valorizar e preservar a história do local. O prédio possui 3,8 mil m² e possui custos elevados para a manutenção. Os custeios são divididos com os aluguéis de salas e de um grupo de associados, que contribuem mensalmente.