Integrantes e representante da ACADEMA defendem a realização de audiências públicas junto aos moradores

Marcelo Zemke
Uma equipe de voluntários da organização internacional Greenpeace esteve no Alto Vale do Itajaí no último fim de semana, 17, realizando uma visita técnica ao longo do Rio Itajaí-Açu, com foco nos trechos entre os municípios de Ibirama, Lontras e Apiúna. A ação teve como objetivo levantar informações sobre os possíveis impactos ambientais causados pela instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) em áreas naturais ainda preservadas.
A visita foi guiada pelo presidente da ONG ACADEMA, o biólogo Murilo Cristovão, que apresentou aos voluntários dados e observações sobre espécies raras e endêmicas encontradas na região, como a Raulinoa echinata e a Dyckia brevifolia, além da situação preocupante da lontra (Lontra longicaudis), cuja população está em visível declínio. “Tive a grata satisfação de receber e guiar uma equipe de voluntários desta organização que vieram a fim de buscar subsídios técnicos para melhor entendimento sobre as consequências da instalação de usinas hidrelétricas dentro do pouco que resta de áreas conservadas e naturais das margens e encostas do Rio Itajaí-Açu. O interesse maior foi com as plantas endêmicas e raras que ocorrem naturalmente neste trecho do rio como a Raulinoa echinata e a Dyckia brevifolia, que estão a cada ano diminuindo a sua população em consequência a omissão e as interferências negativas que este rio teve e têm como muita frequência”, relatou.
Segundo os representantes do Greenpeace, há preocupação com a perda de biodiversidade e com os impactos sobre o ecossistema local, que já sofre com a degradação ambiental ao longo dos anos. Um dos pontos levantados foi a falta de consulta e informação à população ribeirinha, que poderá ser diretamente afetada por esses empreendimentos.
Durante reunião na sede da empresa Ativa Rafting, os voluntários também discutiram os impactos que a instalação da PCH Apiúna pode trazer para o turismo ecológico consolidado na região. Guias e operadores locais demonstraram receio com a possibilidade de prejuízos irreversíveis às atividades de aventura, lazer e educação ambiental ligadas ao rio.
O grupo enfatizou a importância de audiências públicas específicas em cada município impactado, destacando que cada localidade possui suas particularidades socioambientais que devem ser consideradas de forma individualizada.
Usinas
A intenção de construir de 12 aproveitamentos hidrelétricos na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (usinas) tem despertado a atenção de muitas pessoas. Por um lado, há os que defendem os empreendimentos, já que estes projetos teriam potência instalada de 69 megawatts médios e produção anual de 604 mil megawatts/hora, suficientes para suprir, com sobras, os 62 municípios da bacia — uma população superior a 1,3 milhão de habitantes. A estimativa é de que a energia gerada proporcionará aos municípios diretamente afetados cerca de R$ 34 milhões por ano em ICMS.
Por outro lado, há preocupação por conta dos impactos ambientais e das cheias no Alto Vale do Itajaí. Sete destas usinas, foram projetadas entre Lontras, Ibirama e Apiúna. Elas são CGH Tafona, CGH Grabowski, CGH José Grabowski 1, CGH Gunther Faller, PCH Foz do Hercílio, PCH Subida 1 e PCH Apiúna. “São quatro acima da Ilha das Cutias onde já ocorre a vazão reduzida da água que a Usina de Salto Pilão libera dentro da lei e esta ilha, era uma condicionante para ser criado ali uma sede de um Parque Estadual que nunca tiraram do papel, para manter a fauna e flora”, disse.
Maior curso d’água do Estado, com mais de 300 quilômetros de extensão, o Itajaí-Açu já possui duas usinas geradoras de energia: a Salto Weissbach, em Blumenau, de 1913, e a de Salto Pilão, no Alto Vale, inaugurada em 2009.

