Fábrica de Tamancos desperta interesse de pessoas de todo o País  

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Em uma época em que os sapatos de couro eram caros os tamancos eram uma alternativa mais barata para proteger os pés

 

Marcelo Zemke

Uma pequena fábrica artesanal equipada com roldanas e ferramentas únicas, fabricadas na Alemanha há mais de 80 anos, que remete a uma verdadeira viagem no tempo. Assim é a fábrica de tamancos, na localidade de Rio Rafael, que foi considerada uma das últimas do tipo País. Ela faz parte da história da região e desperta o interesse de curiosos de todo o País.

A fábrica já foi destaque no JVN em 2008, e depois de uma repercussão dada por uma reportagem em vídeo em um canal no YouTube, os pedidos para as peças começaram a vir de todo o Brasil, incluindo grupos folclóricos e pessoas interessadas em preservar a história. Atualmente, os calçados são também procurados como peças de decoração.

Na ‘Fábrica de Tamancos Hem. Schwarzrock’, o artesão Ademar Schwarzrock, molda a madeira, dividindo o espaço da mesa de trabalho com as lascas de madeira e ferramentas únicas, usadas para cortar e moldar. Ele é filho de Hermann Schwarzrock, reconhecido pela importância na construção da história de Ibirama. A Casa Histórica, onde funcionou a escola alemã até 1940, leva o nome de Hermann Schwarzrock

Ademar aprendeu o ofício com o pai ainda na infância. A oficina, que era um salão de bailes, foi comprada por Hermann em 1955, que trabalhou na fábrica até os 98 anos de idade. “Um primo começou a fabricar os tamancos e meu pai se interessou. Ele vendeu um terreno e comprou a fábrica”, disse.

Os calçados feitos de madeira e couro, estão nas lembranças de muitas pessoas, inclusive como o primeiro calçado usado na da vida, em tempos em que as coisas não eram tão fáceis de serem adquiridas. Era um presente de Natal ideal, que durava o ano todo e era utilizado em todas as ocasiões, seja trabalho, passeio ou para proteger os pés do piso frio das casas no inverno. Depois de gasto, virava lenha. “Por mês são feitos cerca de 40 pares. Essa quantidade era muito maior antigamente. Nunca vencíamos os pedidos, mas quando começou a vir os calçados de borracha, as vendas caíram. Agora as pessoas voltaram a ter interesse”, revela Ademar.

Antes da industrialização, que trouxe em grande quantidade os calçados em borracha, couro e plástico, os pés eram protegidos por solas de madeira leve e macia, moldadas em canela branca e cedro. As solas de madeira são resistentes e considerada um excelente isolante térmico e de umidade.

“Aprendi a fazer na minha época de criança e não dávamos conta dos pedidos.  Meu pai queria inventar mais coisas, mas sai para dirigir caminhão por 27 anos. Quando me aposentei, voltei a tocar a fábrica para que ela não ficasse parada e complementar a renda. Não se vendia tanto como antigamente, mas era um troco a mais”, revela. O pai faleceu em 2013, prestes a completar 103 anos de idade.

Ademar conta que a procura voltou a crescer há pouco tempo, principalmente por pessoas que querem preservar a história.

Processo de fabricação

Em uma época em que os sapatos de couro eram caros e não estavam ao alcance de todos, os tamancos eram uma alternativa mais barata para proteger os pés. “Antigamente os pedidos chegavam a 150 dúzias e família ajudava para dar conta. Hoje, muitas pessoas procuram para mostrar para os netos. Natal era época de ganhar presentes, e a demanda aumentava”.

Janete Schwarzrock revela que a repercussão da fábrica na internet, trouxe mais pessoas interessadas, entre eles grupos folclóricos, professores e até agências de turismo. “Uma agencia de turismo de Blumenau nos procurou para mostrar fabricação. Tiveram muitas visualizações nas fotos que tiraram aqui. É algo diferenciado e algumas pessoas, principalmente as de mais idade são saudosistas e gostam de voltar ao passado. Tivemos até pedidos e artesanatos de Natal de um grupo de idosos de Blumenau”, conta.

Os tamancos chegaram a ir parar na Alemanha, depois que um visitante se interessou. Atualmente, por conta da repercussão na internet, há pedidos de outras partes do Brasil.

Feitos em madeira e couro, o processo de fabricação começa com uma peça de madeira, que esculpida, ganha o formato de uma sola com salto. A madeira é cortada em blocos da 10cm de altura por 40 de base.

A técnica nasceu na Europa da idade média e foi trazida pelos primeiros imigrantes alemães, italianos e holandeses ao Brasil. “O couro é cortado em moldes e depois é pregado”, demonstra Ademar.

 

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