Proximidade com rodovia propicia a passagem e permanência de moradores de rua no município
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Marcelo Zemke
O aumento de moradores de rua nas cidades do interior de Santa Catarina tem se tornado um problema social e econômico para as administrações municipais. Em municípios que, até poucos anos atrás, eram considerados tranquilos e com baixa vulnerabilidade social, a presença de pessoas em situação de rua nas praças, calçadas e espaços públicos está chamando atenção da população e das autoridades. O uso de álcool e de drogas, tem agravado a situação, deixando os gestores locais com o desafio de equilibrar assistência social e segurança.
O município de Ibirama, através da Secretaria de Assistência Social, vem enfrentando uma crescente demanda por apoio à população em situação de rua. O secretário da pasta, Sandro Luiz Gonçalves, explicou as medidas adotadas para atender essas pessoas e os desafios enfrentados no dia a dia.
Desde o início do ano, a equipe da secretaria registrou um aumento significativo de atendimentos a pessoas em situação de rua, somando sete casos nas últimas duas semanas. “Muitas vezes, a população pede providências, mas desconhece os serviços que a Secretaria oferece”, explicou Sandro. Ele destacou um caso recente de um homem que permanecia em um semáforo pedindo doações, mesmo após ser oferecida ajuda e até uma oportunidade de emprego.
Segundo o secretário, algumas pessoas recusam os serviços por diferentes razões, como dependência química, conflitos familiares ou, até mesmo, preferirem permanecer na rua. “Nós buscamos oferecer auxílio para essas pessoas, seja com apoio médico, internação, contato com familiares ou encaminhamento para oportunidades de trabalho. Contudo, é necessário que a pessoa aceite a ajuda”, enfatizou.
Um exemplo positivo mencionado foi o caso de três pessoas em situação de rua que aceitaram uma proposta de trabalho em Itajaí. A Secretaria de Assistência Social providenciou o auxílio passagem e fez o encaminhamento em parceria com o município receptor. Entretanto, após não se adaptarem ao emprego, eles solicitaram retornar a Ibirama, demonstrando os desafios de reverter a situação de vulnerabilidade social.
Coordenação e limites de ação
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Sandro esclareceu que, mesmo com limitações estruturais – como a ausência de uma equipe específica para abordagem social de rua, comum em cidades maiores – Ibirama realiza atendimentos presenciais por meio do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e mantém contato com outros municípios para garantir que as pessoas sejam atendidas de forma digna. “A demanda vem aumentando, o problema está nas políticas públicas de uma maneira geral, não temos recursos para trabalhar com a população em situação, tão pouco temos equipamentos para fazer o acolhimento dessas pessoas e tão pouco temos recursos humanos para trabalhar com essa demanda. Aqui em Ibirama, fazemos o acolhimento com os técnicos das proteções sociais, tentamos localizar o histórico dessas pessoas, buscamos por informações por cidades onde eles ja passaram e tentamos contato com familiares, oferecemos auxilio com acesso aos serviços públicos, de assistência social, saúde, entre outros, mas na grande maioria não aceita e desejam permanecer na condição em que se encontram”, informou.
Para situações em que moradores de rua causem depredação de patrimônio público ou privado, a orientação é acionar a polícia, uma vez que essas ações configuram práticas criminais. Por outro lado, ao identificar alguém necessitando de apoio, a população pode acionar a Secretaria de Assistência Social para que sejam tomadas as providências adequadas.
Garantindo direitos e acesso a serviços
O secretário destacou que o trabalho segue as diretrizes de legislação federal, com o objetivo de garantir o acesso a serviços públicos, como saúde, alimentação e assistência social. Apesar das dificuldades, ele ressaltou a importância da troca de informações entre os municípios para ampliar a eficiência das ações. “E não somente aqui em Ibirama, mas em todos os municípios principalmente onde passam as rodovias a demanda vem aumentando significativamente e que essa não é uma demanda somente do SUAS – SISTEMA UNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, mas sim de todas as políticas públicas”, disse.
Por fim, Sandro agradeceu à equipe da Secretaria de Assistência Social pelo empenho em atender a população em vulnerabilidade e reforçou o compromisso com a dignidade e os direitos de cada indivíduo. Ele também reforçou que a comunidade é peça-chave para identificar e colaborar na solução dos desafios enfrentados por essas pessoas.
A assistência social em Ibirama é um trabalho contínuo e desafiador, mas busca, diariamente, oferecer alternativas e acolhimento para mudar histórias de vida.
Morador de rua de passagem por Ibirama
Na rotina da BR- 470 em Ibirama, encontramos João*, um homem de 45 anos que há anos vive nas ruas, sempre em busca de um novo destino. Natural do Paraná, João já percorreu diversas cidades do Sul do país e, esteve de passagem pelo município. Ele aceitou compartilhar um pouco de sua história e os desafios enfrentados nessa jornada. “Estou seguindo para Rio do Sul, onde soube que pode haver trabalho temporário. Fiquei sabendo que aqui há algumas oportunidades, então resolvi parar para tentar alguma coisa antes de seguir viagem”, disse.
Ele contou que vive há oito anos nas ruas e procura auxilio nos municípios que passa. “Me ajudam com passagem. Antes, eu trabalhava na construção civil, mas perdi tudo depois de alguns problemas familiares e dificuldades financeiras. Desde então, sigo viajando de cidade em cidade”.
Ele conta que as vezes, consegue abrigo em pontos de ônibus, casas de acolhimento e casas abandonadas. “Quando não tem jeito, durmo na praça ou embaixo de marquises. Para comer, conto com a ajuda de pessoas que doam comida e também faço alguns bicos. Algumas cidades têm assistência, dão um lugar para dormir e comida. Outras não oferecem nada.”
*Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado.