Dois cachorros atacados no bairro Sellin por um animal silvestre
Marcelo Zemke
Na tarde deste domingo (12), dois cachorros da raça Dachshund, pertencentes a um morador, foram atacados na localidade de Atafona, no bairro Sellin, em Ibirama. A suspeita inicial era de que um grande felino, como uma onça-parda (sussuarana), pudesse estar envolvido no incidente. Para esclarecer o caso, consultamos o biólogo Murilo Cristóvão, especialista na fauna local.
O tutor dos cães, Manfredo Hajek, relatou ter percebido o ataque ao retornar para casa no fim do dia e notou os cães com ferimentos. “Meus cachorros estavam machucados, principalmente o menor que também estava sujo de lama. Agora não sei dizer que bicho que causou isso, mas notei rastros na arrozeira, deixados provavelmente por um bico do mato”, conta. Os cães foram medicados por uma veterinária e estão bem.
Murilo descartou a possibilidade de uma onça-parda ou onça-pintada estar circulando na região. Segundo ele, esses animais, que podem pesar até 100 quilos, são de grande porte e geralmente evitam áreas próximas a residências. “Se fosse uma onça-parda, ela estaria caçando animais maiores, como bezerros, e não passaria despercebida. Além disso, a pegada analisada é pequena e apresenta características que não coincidem com as de um felino desse porte”, explicou.
Gato-mourisco
O biólogo sugeriu que o ataque pode ter sido realizado por um gato-mourisco (Puma yagouaroundi), também conhecido como jaguarundi. Esse pequeno felino é nativo da região e, devido à escassez de presas em seu habitat natural, pode se aproximar de áreas habitadas em busca de alimentos. “Já encontrei um gato-mourisco morto nessa mesma localidade. Eles são furtivos e normalmente evitam contato com humanos, mas a destruição do habitat e a atividade de caçadores forçam esses animais a se aproximarem de propriedades rurais”, comentou Murilo.
Outra característica destacada pelo biólogo é que os felinos, em geral, não mostram as garras em suas pegadas enquanto caminham normalmente, ao contrário dos cachorros do mato, que deixam marcas de unhas visíveis. Isso é um detalhe útil para diferenciar entre pegadas de canídeos e felinos em trilhas ou áreas de observação da fauna.
Embora o gato-mourisco não seja perigoso para seres humanos, ele pode atacar pequenos animais domésticos, como galinhas e cachorros de pequeno porte, em momentos de necessidade. “É um animal raro e de grande beleza, mas sua população está ameaçada pela perda de habitat e acidentes”, alertou o biólogo.
Falta de monitoramento
Murilo mencionou ainda que há poucos estudos e monitoramento de grandes felinos ou outros carnívoros na região do Alto Vale. Projetos como o Projeto Carnívoros, que opera no Parque Nacional do Rio do Itajaí, poderiam ser ampliados para fornecer mais dados sobre a presença de espécies como o gato-mourisco ou a sussuarana, que já foi encontrada atropelada em Apiúna. Nenhuma das espécies representa perigo para humanos.
O incidente reforça a necessidade de mais iniciativas para conservação e manejo da fauna local. Enquanto isso, moradores da área rural são orientados a proteger seus animais domésticos e evitar confrontos com a fauna silvestre.
Para mais informações, o biólogo se colocou à disposição e prometeu enviar materiais que documentem a ocorrência do gato-mourisco na região.
A riqueza da fauna de Ibirama e a importância da preservação
A Mata Atlântica abriga uma fauna diversificada, incluindo espécies como o gato-mourisco, tamanduás, tucanos e gaviões. Esses animais desempenham papéis essenciais no equilíbrio ecológico, mas enfrentam ameaças como desmatamento, caça e atropelamentos.
A preservação é vital para manter a saúde dos ecossistemas e a qualidade de vida futura. Ações como ampliar projetos de monitoramento, criar corredores ecológicos e promover educação ambiental são fundamentais. A comunidade também pode contribuir, evitando a caça e protegendo os habitats naturais.
Valorizar e preservar a biodiversidade de Ibirama é um compromisso necessário para proteger este patrimônio ambiental e cultural.