Prédio foi confiscado em 1942 e devolvido à comunidade em 20 de setembro de 1986
Fotos Arquivo
Marcelo Zemke
O edifício Hansahoehe, um marco arquitetônico e símbolo histórico de Ibirama, completou 88 anos. Inaugurado em 1936, ele se destaca pela sua imponência e relevância, sendo frequentemente utilizado como imagem representativa da cidade. Em seus primeiros anos, chegou a ser considerado “o hospital mais alto de Santa Catarina”, e jornais da época mencionavam que “todos os andares poderiam ser acessados de automóvel”. Idealizado pelo médico alemão Friedrich Kröner, que também foi o primeiro diretor, o hospital teve sua pedra fundamental lançada em 12 de maio de 1935, e a construção foi concluída em tempo recorde. Os primeiros pacientes chegaram em outubro de 1936.
Durante a construção, cada detalhe foi cuidadosamente pensado, desde a orientação do edifício para maximizar a entrada de luz solar, até a espessura das paredes, que garantia refrigeração interna, em uma época sem ventiladores ou ar-condicionado.
Em 8 de junho de 1941, o interventor federal Nereu Ramos visitou o hospital. No ano seguinte, o Governo do Estado de Santa Catarina decretou intervenção e confiscou o prédio em junho de 1942, conforme o Decreto nº 2459.
O Hansahoehe foi criado para substituir o antigo Hospital Hammonia, da Associação Hospitalar de Caridade, que funcionou de 1913 a 1935 na rua Blumenau, onde atualmente está localizada a Delegacia de Polícia Civil. Com o tempo, o Hammonia enfrentou dificuldades financeiras e insalubridade, com problemas de umidade e infiltrações.
O Dr. Friedrich Kröner, que chegou a Ibirama em 1933, identificou as más condições do hospital antigo e sugeriu a construção de um novo edifício, que foi financiado pela comunidade. O apoio veio de doações da população e de entidades como a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE Ibirama), que contribuíram com roupas de cama e utensílios domésticos. Houve também auxílio financeiro da Alemanha, através da Volksbund für das Deutschtum im Ausland.
Prisão do Dr Kröner
O arquiteto Simão Gramlich, conhecido por suas obras em Santa Catarina, incluindo a catedral São João Batista em Rio do Sul, foi responsável pelo projeto, enquanto Peter Schelle supervisionou a construção. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, Kröner foi preso sob suspeita de associação com o Partido Nacional Socialista da Alemanha.
O médico mantinha uma biblioteca de 440 livros em alemão no hospital, que foi denunciada por uma enfermeira com quem ele mantinha uma rixa. Kröner passou dois anos preso em campos de concentração em Florianópolis e no Rio de Janeiro, enquanto o hospital foi confiscado e transformado em sanatório para tuberculosos.
Devolução do Hansahoehe
A devolução do Hansahoehe à comunidade de Ibirama ocorreu em 20 de setembro de 1986, após décadas de reivindicações. A euforia tomou conta da cidade, e o prédio passou por restaurações internas e externas, com o apoio da comunidade e do Governo do Estado. Em 1996, o hospital foi reinaugurado e voltou a ser chamado pelo seu nome original. Hoje, o edifício abriga o Museu Histórico Eduardo Lima e Silva Hoerhan, além de um teatro, cinema (atualmente desativado) e clínicas médicas.
O Hansahoehe sobrevive graças à dedicação de pessoas comprometidas com a preservação de sua história. Contudo, o prédio, com seus 3,8 mil metros quadrados, enfrenta altos custos de manutenção. Parte dos recursos vem dos aluguéis de salas e de contribuições de associados. A Associação Beneficente e Filantrópica Hamônia estuda o tombamento do edifício, o que pode abrir portas para novos recursos e investimentos.