Prédio foi construído em 1952 e entre outras coisas, na história da estrutura consta ter abrigado uma das primeiras prefeitas eleita por votos diretos do Brasil

Marcelo Zemke
Após a realização de uma audiência pública, a comunidade getuliense decidiu manter o prédio que abrigou a antiga prefeitura do município. Participaram membros da comunidade, estudantes, agentes políticos, entre outros. No placar da audiência,153 votos foram dados para manter a estrutura, e 119 pessoas votaram para demolir.
Os votos aconteceram por cédula, onde constavam duas propostas, sendo uma de demolição e outra de manutenção do prédio. Nelas, foram revelados 272 votos, onde 119 (43,75%) apresentavam-se a favor da demolição, 153 (56,25%) contra e 3 nulos. Entre as propostas para o uso da edificação está a locação de um espaço para um “café” ou similar, uma sala de apoio ao ciclista. O local ainda pode abrigar o museu municipal no pavimento superior. Também deve-se utilizar espaços térreos para salas multiusos: Sala de aula e sala de vídeos para o museu; Salas para reuniões e atividades de entidades municipais.
“A noite de ontem ficará para a história da cidade. Hoje quero agradecer a todas as pessoas e entidades que saíram de suas casas, em baixo de chuva, para defender a preservação de um patrimônio histórico. Se você está feliz com o resultado, agradeça seu vizinho, seu amigo que foi na audiência votar. Sem esse voto e sem projeto nada disse seria possível”, manifestou o arquiteto que reside no município, Diogenes Przygoda.
O prédio foi construído em 1952 e entre outras coisas, na história da estrutura consta ter abrigado uma das primeiras prefeitas eleita por votos diretos do Brasil, a prefeita Cecília Ax em 1959.
“Todos os prefeitos que passaram pela administração de PG, fizeram de tudo para reformar e manter este prédio, pois ele traz muito da história. Mas temos que ser verdadeiros, Cecília Ax não foi a primeira prefeita eleita no Brasil”, contrastou o vice-prefeito José Adalcio Krieger. Luiza Alzira Soriano Teixeira, do Rio Grande do Norte, foi a primeira prefeita eleita no Brasil, em 1928, no entanto, ela foi eleita de forma indireta, que permitia o voto apenas de pessoas delegadas.
Em tom conciliador, o prefeito Nelson Virtuoso defendeu legitimidade da votação em audiência pública. “Sabemos que o prédio tem vários problemas, aplicamos recursos e logo em seguida continuou com os mesmos problemas. Se é vontade de todos manter, vamos no unir e buscar recursos para que isso aconteça”, ponderou o prefeito Nelson Virtuoso.

Por apresentar um espaço físico não muito amplo, a maior curiosidade é que o prédio da prefeitura abrigava toda a estrutura administrativa do município e também a cadeia pública. Muitos presos cumpriram pequenas sansões penais nas celas da prefeitura.

Prédio foi alvo de polêmica
O antigo prédio havia sido alvo de polêmica, após o poder público manifestar a intenção de demolir a estrutura, que permaneceu fechada desde a enxurrada de dezembro de 2020. Com a decisão, o Município fará a limpeza do prédio e avaliará a forma de uso a partir de então
Em 2021, após iniciar a demolição do local, o juízo da Vara Única da comarca de Presidente Getúlio determinou a suspensão imediata de qualquer intervenção voluntária que modifique, desfigure ou viole a estrutura do prédio da antiga Prefeitura Municipal, sob pena de multa de R$ 500 mil. A decisão atendia a uma ação popular ajuizada por dois legisladores municipais.
Localizado na praça Otto Muller, no centro da cidade, o imóvel foi construído em 1952 “utilizando o método de construção em alvenaria estrutural com o uso de blocos cerâmicos maciços”. Apesar da importância histórica e arquitetônica, a construção não é tombada.
Ao longo dos anos, as constantes reformas e alterações na sua estrutura, o prédio foi fundamentalmente alterado e descaracterizado. Como exemplo dessas descaracterizações, houve o suprimento e alteração do hall de entrada, suprimento da escada no acesso ao prédio com no mínimo três degraus, aterro de no mínimo 70 (setenta) centímetros em todo o entorno do prédio, alteração de paredes internas, alteração e modificação da escada interna, emenda nos fundos da construção.
A construção passou por inúmeras reformas, nas mais diversas administrações municipais, com gastos elevados e que não surtiram efeito exigindo novas reformas em poucos anos e assim sucessivamente.
Finalmente, na ocorrência da catástrofe de 16 e 17 de dezembro de 2020, a edificação restou mais uma vez potencialmente atingida, desta vez mais drasticamente.