Exposição/intervenção “minimonumento” é em homenagem e memória à presença dos povos indígenas.
Por Marcelo Zemke Rede Vale Norte
O museu municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, no Hansahoehe está com a exposição/intervenção “minimonumento” em homenagem e memória à presença dos povos indígenas – guarani, kaingang e xokleng – em Santa Catarina. A obra é do artista plástico e caixeiro viajante Silfarlem Oliveira, que teve o projeto selecionado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura/Artes, executado com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. A mostra poderá ser visitada no Museu Municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann até o dia 29 de outubro.
O museu recebeu uma vitrine temporária para abrigar a intervenção artística em forma de “frasco/minimonumento”. Para o artista, a proposta da intervenção é “Descolonizar os museus e os monumentos (patrimônios culturais/artísticos) e ativar a memória histórica a partir de um ponto de vista indígena”. Silfarlem ressalta que se faz cada vez mais necessário refletir sobre a colonização: “Como caixeiro tenho percorrido litoral, serras e vales, antes habitadas plenamente pelos povos indígenas Guaranis Carijós, Laklãnõ/Xokleng e Kaingang. Por onde estive, como representante da Companhia Descolonizadora, visitei arquivos sobre as Companhias Colonizadoras, espaços culturais/históricos, museus coloniais (do imigrante europeu) e passei por muitos monumentos aos pioneiros. Nem um aos povos indígenas. No máximo alguma menção ao que chamam pejorativamente de bugre (pacificado/civilizado). Encontrei também homenagem a bugreiro caçador de índio. Aqui em Ibirama, fui informado que, recentemente, foi publicado um poema para Martim Bugreiro”, disse.
A mostra acontece em 13 municípios do Estado. Em todos os municípios, além da inauguração/distribuição do “frasco/minimonumento”, ocorre também, sem aviso prévio, ação de rua de distribuição de “frascos/minimonumentos” da Água De Colonial Caldas dos Bororenos em lugar público de grande circulação. Em Ibirama a ação de rua ocorreu no Parque Municipal Manoel Marchetti. Segundo o artista, a ideia é que a proposição artística não fique restrita apenas aos frequentadores de museus, mas que seja igualmente uma intervenção no espaço público.
Para a instalação da vitrine expositora, estão sendo priorizadas arquiteturas e museus artísticos, culturais e históricos que resguardam arquivos, objetos e outros artefatos que narram a história da colonização. “Dia 22 de setembro, fez 107 anos que, em nome do desenvolvimentismo, os povos originários do Alto Vale do Itajaí foram arrancados da mata e diante das circunstâncias terríveis de perseguição foram reunidos no Posto Indígena. Hoje sabemos que o principal motivo de tal atração não foi frear a matança de indígenas promovidas pelos Bugreiros com aval das colonizadoras e governos, sabemos que a atração e reunião de povos indígenas de diversas etnias e de diversos territórios, facilitou o avanço do processo de ocupação e colonização da região. Dito isso, hoje, portanto, vamos homenagear e sinalizar a existência dos primeiros habitantes dessas terras, vamos sinalizar a presença dos Kaingang, dos Laklãnõ/Xokleng dos Guaranis que atualmente vivem nas diversas aldeias da Terra Indígena Ibirama/Laklãnõ”, disse o artista.
A abertura contou com a convidada Walderes Coctá Priprá da Aldeia Bugio que leu dois poemas (Saudades e Pacificação), escritos por seu pai, que narram episódios da história vividos por seu povo. Estavam presentes na inauguração: alunos de História do ensino médio do CEJA de Ibirama, professor Givanildo Silva, diretora Cristina Lohmeyer e o responsável pelo museu Cleandro Boeira.
Fórmula da Água De Colonial Caldas Dos Bororenos
A Água De Colonial Caldas Dos Bororenos mescla em sua fórmula revulsiva e desintoxicante substâncias nativas com elementos históricos do passado e do presente. Seu conteúdo ativo existe desde antes de 1500, desde antes da chegada dos europeus ao continente Abya Yala (América). As águas, as plantas e os povos ameríndios que aqui habitavam na era pré-colombiana são a essência desta proposição cosmética/artística anticolonial. As semelhanças com as tradicionais e populares “águas de colônia” não são gratuitas. Foram acrescentados à solução elementos anticoloniais (estéticos-sensoriais-descritivos) que transformam água de colônia em água de colonial (para combater as narrativas coloniais e o desenvolvimentismo predatório ainda operantes nos dias de hoje) e foi batizada com o nome de Caldas Dos Bororenos em homenagem aos povos indígenas que viviam na região da Serra Do Tabuleiro e utilizavam as águas termais do Rio Cubatão.
Sobre o artista
Silfarlem Oliveira, artista propositor e caixeiro viajante, é doutor em Artes Visuais pela UDESC. Artista e pesquisador, pauta suas obras pela aproximação e tensionamento entre arte, cultura e ação política. Também integra, como pesquisador a equipe da Sala De Escuta/Sala De Leitura ligada ao grupo de pesquisa proposições artísticas contemporâneas e seus processos experimentais (UDESC).
Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Divulgação