A pandemia causada pelo Coronavírus causou diversos impactos em vários setores da economia. No Alto Vale alguns empresários que trabalham direta ou indiretamente no setor têxtil estão preocupados com uma possível falta de mercadoria para a próxima estação.
Maiara Vandenboom trabalha com a venda de roupas infantis, em Trombudo Central. Ela divulgou através das redes sociais, uma grande preocupação com a falta de matéria-prima e aumento do preço das mercadorias nos próximos meses. “Representantes de várias marcas dizem que as empresas que fizeram estoque de rolos de tecido, ainda continuarão abastecendo, mas algumas que não compraram vão parar de vender pelo preço comum. Eu abri a loja em julho, então, se não tiver as peças para vender, vou ter que fechar a loja. Se eu tiver que subir muito o preço ou vender por um preço muito alto e tiver que repassar esse preço, o consumidor não vai comprar e eu também não vou vender, acho que é falência, vamos acabar fechando e encerrando o contrato de aluguel, investimento altíssimo que fiz aqui na loja, porque era um ramo que até então a gente não acreditava que seria afetado, mas assim como o arroz subiu, o tecido também”, afirma. Ainda segundo Maiara, a questão mais comentada entre os grupos é a exportação dos materiais. “O que a gente ouve nos grupos de facções é que não vai haver falta da matéria-prima, mas o tecido está sendo exportado, porque como o dólar está alto, compensa vender e não deixar para nós. O que ocorre de verdade, nós não sabemos, mas a especulação é essa”, justifica.
Outra empresária, Joseani Schmidt, trabalha com venda de tecidos, em Ituporanga. Ela conta que representantes de algumas marcas já avisaram sobre uma parada na produção em razão de uma provável falta de matéria-prima. Embora a região não tenha sofrido com isso, até o momento, este pode ser mais um dos efeitos negativos em relação à economia. “Eu compro de uma importadora, e o representante comentou que o tecido pode sofrer um aumento de até 40%, ainda não se sabe se é verdade, mas está faltando bastante coisa, até varinha de cortina eu fui comprar e não tem mais”, comenta.
Em contrapartida, a presidente do Sindicato de Trabalhadores Têxtis do Alto Vale do Itajaí (Sititev), Zeli da Silva, afirmou que o setor teve uma alta mesmo durante a pandemia e que tal crescimento foi observado devido ao aumento da procura por trabalhadores e diminuição nas rescisões contratuais. “Nós temos observado um grande aumento no número de contratações no setor. O setor observou a procura por pessoas interessadas em trabalhar neste segmento, além disso, o número de rescisões de contrato diminuiu aqui no Sindicato, então se as contratações aumentaram é porque o segmento está produzindo e então, a gente vê que está crescendo. Isso é muito positivo, estávamos preocupados com a pandemia e mesmo em meio a tanto caos o efeito é positivo”, destaca.
Zeli explica também que o segmento vestuário é um dos que mais cresce e que o Estado é um dos que mais gera empregos. “Nos últimos anos, Santa Catarina foi um dos maiores responsáveis pelo crescimento do setor no país e na geração de empregos, sempre. O ‘têxtil vestuário’ é o que sempre predomina. É um segmento que cresce bastante, inclusive, dois anos atrás, o Estado produziu mais que a cidade de São Paulo. Se olhar na nossa região, o número de empresas também teve um aumento, claro que o setor é fragmentado, porque temos as facções, mas a abertura destas também aumentou”, avalia.
Questionada sobre um possível aumento na compra de tecidos, em razão da falta de matéria- prima, Zeli afirma que a região ainda não sentiu isso. “Não estou dizendo que isso não vai acontecer, mas até o presente momento não há nada confirmado na nossa região. O pessoal está produzindo, crescendo, contratando. Não posso garantir que em outras regiões isso já não esteja acontecendo, mas de imediato não vi nada a respeito, nem mesmo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)”, esclarece.
De acordo com pesquisa divulgada pela Abit, em março deste ano, 97% dos empresários do setor já sentem o impacto da Covid-19.
O que diz a pesquisa
A pesquisa foi realizada pela equipe de Economia da Abit. Ao todo 183 empresas do setor têxtil e de confecção brasileira participaram do levantamento de dados entre os dias 16 e 26 de março.
De acordo com os dados, 97% dos pesquisados já sentem o impacto direto no processo produtivo. Dentro deste total, 88% teve cancelamento ou adiamento dos pedidos, 28% contaram com alteração nos custos dos insumos e outros 41% tiveram o abastecimento de insumos afetados.
Ainda de acordo com a pesquisa, a maior parte das empresas (93%) tomou medidas de prevenção para evitar a disseminação do vírus, dentre as ações estão: adoção de home-office por parte da equipe, distribuição de álcool em gel, luvas e máscaras, horário flexível, informativos, cancelamento de viagens ao exterior, entre outras. Já em relação ao crédito bancário, 70% das empresas relatam nenhuma alteração foi realizada nas condições e 44% dizem que não houve mudança nos prazos comerciais para as mesmas.
Fonte: Diário do Alto Vale