Doação de colchões velhos pelo Exército para índios com coronavírus em José Boiteux é considerada descaso

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Imagine uma espécie de hospital de campanha ou unidade de saúde básica para atender pacientes com coronavírus montada com colchões velhos, sujos ou rasgados. Pense ainda que a doação tenha sido feita pelo Exército Brasileiro e entregue pelo Ministério da Saúde, através da Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai. Foi o que aconteceu na Terra Indígena  (TI) Laklãnõ, nos municípios de José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meireles e Itaiópolis, no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

Foi um ato de descaso, escreveu a índia Guajajara Sonia, uma das principais lideranças indígenas do país, nas redes sociais da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A índia do Xingu questionou sobre a presença de fungos e bactérias, o que traria mais riscos à saúde das pessoas já adoecidas.

— Os colchões estão inadequados para o uso, e os cobertores vieram sujos – confirmou o índio Abraão Patté.

O objetivo é montar na área uma unidade de saúde para isolar os índios que testaram positivo para o coronavírus nas nove aldeias da TI. O trabalho fica sob responsabilidade do Distrito Sanitário Especial Indígena (DESEI-Interior), o qual está realizando testes rápidos, distribuindo material de proteção, álcool-gel e monitorando os casos positivos. 

De acordo com Alexandre Rossentini, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Interior-Sul (DSEI), as escolas das aldeias serão usadas para o isolamento dos índios com Covid 19. Também foi anunciada a contratação de mais um médico para atender os Xokleng.

Índigenas vivem em terras do Alto Vale do Itajaí
Índigenas que vivem em terras do Alto Vale do Itajaí foram testados para o novo coronavírus(Foto: Brasílio Pripa / Acervo Pessoal)

Dezenas de  infectados, duas mortes e uma paciente grave na UTI

Cerca de 60 pessoas estão com a Covid na TI, havendo o registro de duas mortes. Além disso, uma mulher com 65 anos encontra-se na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Oase, de Timbó, referência para a doença na região. Desde o primeiro registro, em 30 de julho, a situação só piorou:

—  A gente toma os cuidados, mas assim como acontece com os não índios o vírus chega – diz Brasílio Pripa, que enfrenta o isolamento da esposa e da filha de três anos que pagaram o coronavírus.

Os índios fizeram barreira sanitárias para impedir a passagem de veículos pelas aldeias. Mas, apesar do isolamento, as famílias têm necessidade de sair para comprar alimentos na cidade. Ainda nesta tarde de quinta-feira, o Distrito Sanitário Especial Indígena se comprometeu a recorrer os colchões velhos e devolvê-los ao Exército. 

A expectativa agora é que o governo do Estado atenda a um ofício encaminhado por lideranças e prefeitos da região com pedido ajuda. A Defesa Civil do Estado prometeu enviar 70 colchões e roupas de cama novas para os Xokleng.

Fonte: NSC