Prefeito de Itajaí estima gasto de até R$ 50 mil com ozônio contra Covid-19; médicos podem ser punidos, diz CFM

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O prefeito de Itajaí (SC), Volnei Morastoni (MDB), estima gastar até R$ 50 mil para o tratamento de ozonioterapia contra a Covid-19. Mais de R$ 4,5 milhões foram investidos pela prefeitura com dispensa de licitação para a compra de medicamentos preventivos ao coronavírus sem eficácia, como cânfora e a ivermectina. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), os médicos que não seguirem as normas vigentes podem ser punidos.

A informação foi anunciada na manhã desta sexta-feira (7) durante entrevista ao Bom Dia Santa Catarina. Ele explicou que a recomendação como medida de tratamento será feita em pacientes confirmados e a um grupo restrito de 146 pacientes.

“Ozônio é baratíssimo. A instalação nós temos, os recursos humanos são as nossas próprias equipes que temos no município. Vamos gastar R$ 40 mil , R$ 50 mil, no máximo, para fazer um estudo desta natureza com uma contribuição sensacional para a saúde pública do Brasil”, afirmou Morastoni.

A Prefeitura de Itajaí se inscreveu para uma pesquisa que deve verificar os efeitos da ozonioterapia em mais de 140 pacientes com Covid-19 e aguarda aprovação da Associação Brasileira de Ozonioterapia para saber quando começar o tratamento.

A cidade tem 3.934 diagnosticados com coronavírus e 107 mortes pela doença, segundo o governo estadual. Em todo estado, são mais de 98 mil casos e 1,3 mil pessoas que morreram.

O prefeito de Itajaí defendeu o uso da técnica e diz que essa prática é usada em muitos países com comprovação de benefícios contra diferentes doenças: ‘”um santo remédio”, disse. Ele diz que espera que a partir dessa pesquisa espera que se consiga a comprovação científica dos efeitos contra a Covid-19.

Mas a aplicação de ozônio por via retal, entretanto, não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e foi rechaçado por especialistas consultados e o Conselho de Medicina, a Sociedade Brasileira de Infectologia e o Ministério da Saúde não recomendam o uso por falta de comprovação.

Punições

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) recomendou que o prefeito não use a ozonioterapia no tratamento do coronavírus. Em nota, a prefeitura confirmou o recebimento da recomendação, mas diz que a ação municipal não se trata de distribuição em forma de tratamento e sim de participação em estudo nacional.

Em nota de esclarecimento divulgada na quinta-feira (6), o Conselho Federal de Medicina reforçou que a “ozonioterapia não é válida para tratar casos de Covid-19 ou outras doenças” e que não é liberada, com exceção de “ambiente de estudos científicos”. Os profissionais que não seguirem as normas podem ser punidos.

“”O CFM e Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), que atuam na disciplina, regulação e fiscalização do exercício da profissão, informam que os médicos que não obedecerem às normas éticas estabelecidas estão sujeitos à denúncias e averiguação de suas condutas no que se refere à prescrição da ozonioterapia”, afirma a nota.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) de Santa Catarina não detalhou se algum profissional está sendo ou não investigado porque todo o processo é sigiloso.

Morastoni entende que a punição do CFM não se enquadraria no caso de Itajaí porque a aplicação de ozônio deve fazer parte de uma pesquisa e que o Conselho “precisa se atualizar”, segundo informou em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina.

Gastos públicos

Os gastos com os tratamentos alternativos integram recursos próprios, verbas federais e estaduais recebidas. O uso da cânfora ocorreu no final de abril, logo após o início da flexibilização das atividades comerciais. Foram 150 mil frascos comprados por R$ 150 mil. Um questionário online avaliou o resultado do tratamento homeopático, mas o resultado da avaliação não tem comprovação.

O maior investimento, alvo de questionamentos do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE), foi com a ivermectina. A prefeitura dispensou licitação para adquirir as doses encomendadas a um laboratório por R$ 4,4 milhões para comprar até 3 milhões de comprimidos.

A distribuição das três doses necessárias é feita pelas equipes das unidades de saúde e do Centreventos. Segundo o portal da transparência da prefeitura, mais de R$ 210 mil foram desembolsados para promover a ação nas instalações. O valor custeou serviços de limpeza, segurança, tapetes, separadores de fila e outros itens necessários para a distribuição da ivermectina, que começou em julho.

Para o prefeito, o investimento na ozonioterapia sai barato aos cofres públicos. “‘É uma coisa tão irrisória e ínfima porque todas essas práticas alternativas como a homeopatia e a ivermectina. O ozônio é oxigênio […] estou falando de um paciente Covid positivo com sintomas que está precisando de oxigênio. É o próprio oxigênio que você pega do aparelho e passa por dentro de uma máquina e sai em O³”, disse.

Mesmo com os tratamentos, o prefeito fez o apelo para que os moradores fiquem em casa e disse que essas medidas de tratamento alternativo adotadas em Itajaí e para evitar que os pacientes cheguem à gravidade de precisar d eleitos de UTI.

“Jamais a gente deve abandonar as recomendações não farmacológicas, que são distanciamento social uso de máscara, higiene de mãos e objetos. Não é porque tem a opção a ou b de um eventual preventivo ou tratamento que a pessoa vai abandonar as outras práticas. Elas são importantes quanto, é a somatória delas que vai dar um resultado final”, afirmou Morastoni.

Fonte: G1 SC