Alta repentina de internações por coronavírus nas UTIs preocupa hospitais de Blumenau e região

Geral

O aumento no número de casos de Covid-19 no Vale do Itajaí chegou às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais. Houve alta repentina nas internações de pacientes em estado crítico nos últimos dias, o que obrigou o acionamento de leitos de reserva e elevou temores de uma disparada nas próximas semanas. Dois tipos de medicamentos estão sendo racionados para que não faltem.

Segundo o governo estadual, estão ocupados 60% dos 201 leitos de tratamento intensivo SUS nos hospitais do Vale, mas o dado sugere tranquilidade que não combina com o clima na linha de frente. Nessa conta estão 17 unidades pediátricas e 14 neonatais, menos exigidas pela pandemia, além de leitos de reserva ainda não instalados.

Na prática, todos os 24 leitos de UTI Geral do Hospital Santa Isabel estão ocupados nesta segunda-feira (22), 12 deles por pacientes de Covid-19. Quatro leitos semi-intensivos já foram adaptados como reforço.

Segundo o médico intensivista e gerente de leitos de UTI, Hayslan Theobaldo Boemer, a unidade estuda a abertura de mais leitos de reserva. No total, há equipamentos disponíveis para outros 12, totalizando 40.

Porém, para acionar a capacidade total seria necessário lançar mão dos respiradores em backup, que substituem os que apresentam problemas. Nessa hipótese, as escalas da equipe ficariam extremamente justas. Ninguém poderia adoecer.

Conversei com Boemer há 10 dias. Ele contava que, após uma alta preocupante no fim de maio, o número de internações havia estabilizado. Agora o quadro é outro:

— A situação mudou muito. A gente teve um aumento bem expressivo de solicitação de vagas para doentes críticos por infecção por coronavírus — disse o médico nesta segunda.

No Hospital Santo Antônio, só quatro dos 25 leitos de UTI Geral estão desocupados. Oito pacientes em tratamento intensivo lutam contra a Covid-19, sendo que quatro deles deram entrada nesta segunda.

— Tenho mais medo de que falte medicamento do que leito — revela a medica intensivista e gerente da unidade, Karine Becker Gerent.

Ela se refere a dois medicamentos que já rarearam nas casas de saúde da região, por absoluta falta no mercado: o opióide fentanil, para anestesia, e o pancurônio, um paralisante muscular adotado em pacientes intubados. Até o momento, garantem os médicos, não houve prejuízo aos atendidos.

“Há descrença na população”

Em Timbó, o Hospital Oase foi escolhido como referência na região para receber pacientes de Covid-19 em tratamento intensivo. Por isso, os 10 leitos de UTI existentes até março passaram a 37. Uma ala de isolamento com 17 leitos e outras 10 unidades neonatais que nem haviam sido inauguradas foram convertidas em vagas para adultos.

Apesar do reforço, o clima é de preocupação. No sábado, eram 13 pacientes internados, número que diminuiu para nove nesta segunda. O diretor-executivo do Oase, Richard Choseki, estima que, dentro de 15 dias, o número de internações possa ultrapassar as duas dezenas. Ele usa como termômetro o volume de atendimentos no pronto-socorro para doenças respiratórias. Duas semanas atrás, eram cinco pacientes por dia. Agora, esse número chega a picos de 50.

— Queimamos a largada, houve uma expectativa de que a doença vinha, e não veio. Agora que a coisa se instalou na região, há uma descrença na população como um todo —, lamenta Choseki.

Apesar de preocupante, o quadro nos hospitais do Médio e Alto Vale do Itajaí ainda é melhor que o de outras regiões. Na Foz do Itajaí, o índice de ocupação geral de UTIs, segundo o Estado, é de 77%. No Sul, 70%, e na Grande Florianópolis, de 63%.

Sempre faltaram UTIs

Escassez de vagas para tratamento intensivo não é exatamente um problema novo para quem trabalha na área em Blumenau e região. Antes da crise do novo coronavírus, a demanda gerada por acidentes, traumas, transplantes, cirurgias eletivas, entre outros, já ocupava mais de 90% dos leitos disponíveis.

Com a pandemia, porém, a insegurança entre os profissionais do setor é maior. A aceleração no número de casos, que em Blumenau pode ser observada em quase todos os bairros, pode provocar um salto de demanda em poucos dias. Um desafio diferente daquele experimentado no cotidiano.

— Ficamos num estado de alerta. Em que ponto da curva nós estamos? O comportamento ainda é muito incerto, estamos sempre esperando. O pico ainda não chegou —, resume Hayslan Boemer, o intensivista do Hospital Santa Isabel.

Fonte: NSC